Sexta-feira, 18:30. A mãe chega em casa do trabalho, apressada,
com fome, pensando no curso online que começa às 19h, na filha que deve estar
com fome e no marido que não anda bem de saúde e que passou a tarde cuidando da
filha, pois a babá foi embora logo após o almoço, como acontece todas as
sextas-feiras.
18h35, depois de um abraço gostoso, a mãe ouve do marido que
a filha havia acabado de acordar, que tinha mamado às 15h e que devia estar com
fome. A mãe corre esquentar a comida que sobrou do almoço: arroz, feijão e
panqueca. Sem legumes. – Me desculpa
filha, mas hoje não dá tempo.
Senta a criança na cadeira, tira a comida do microondas –
que cheira bem e deixa a mãe com mais fome ainda – oferece pra criança, que
come a primeira colherada, faz uma cara de poucos amigos e recusa a segunda.
- Come filha, pelo menos um pouco, você deve estar com fome.
- Não, diz ela sem dizer, fazendo cara de nojo, batendo a
mão na colher e espalhando carne moída pela cozinha toda.
- Ok, mamar você quer então? Diz a mãe sem saída, sem tempo
e, porque não, sem muita paciência também.
A mãe prepara a mamadeira, leva até a sala, entrega a mamadeira e
a filha pro marido. – Toma amor, preciso que você dê a mamadeira porque meu
curso já vai começar.
Já são 18:50
A mãe aproveita o momento de distração da filha, que mama
com uma cara de quem diz: Ta bom, né, já que não tem outra opção mesmo (Fidamãe,
comer ela não quis, né?), corre pro quarto lá do fundo, onde fica o desktop e
se apressa pra atualizar o programa que grava o curso online.
19h. Começa o curso. 19:01. Começa a choradeira da filha lá
na sala. – Mãmãmãããããããã!!
A mãe finge que não ouve. – Logo ela para. Ilusão, ela não
vai parar.
O curso começa bem, todo mundo se apresenta, a mãe ta
concentrada no que o professor fala.
Passam-se alguns minutos e, cansado de ver a filha resmungando
sentada no cantinho da porta que dá acesso à cozinha (e ao quarto do fundo), o
pai libera a passagem e lá vai a filha, feliz e contente, encontrar a mamãe. Papai
se deita na beliche do quarto, liga a televisão e tenta assistir o jogo que
passa.
- Olha filha, é o Corinthians! Deita aqui com o papai pra
assistir o Corinthians jogar!
- Pffff. Nem pensar, diz a filha sem dizer, apenas
virando-se para mexer em alguma coisa que não pode.
E assim caminha a humanidade o curso: uma pergunta ao
professor ali, um “tira o dedo da tomada” lá, uma anotação aqui e outro “devolve
o mouse da mamãe” acolá.
Passa das 20h. O professor do curso pede uma pausa pra tentar
solucionar problemas com a conexão ou sei lá o que que travava a aula a todo
instante. A mãe pega a filha, corre pro quarto, troca a fralda e, no meio do
caminho, para pra tomar um copo d’água.
Voltamos pro computador. A mãe não resiste aos bracinhos
esticados e à cara de gato de botas da filha e a pega no colo, sentando junto
com ela na poltrona do computador. 10 segundos mais tarde, depois de um teclado
avariado, uma quase-queda da tela do pc e de um frase sem sentido digitada no
chat do curso (que felizmente não teve um “enter” no final), a mãe desiste da
ideia e devolve a filha pro chão, enquanto o pai tenta, em vão, tirar um
cochilo.
Mais alguns minutos se passam, são quase nove horas, o pai
desiste de tentar cochilar, de tentar ver o jogo e de tentar manter a filha
quieta, pega a cria e parte com ela rumo à sala novamente. Não sem antes dar um
aviso, mais a si mesmo do que à filha:
- Eu vou levar você daqui, e se você começar a chorar, vai
ficar lá esperneando que eu não vou te trazer de volta! Entendeu?
- A-ham, diz a filha, sem dizer, com um sorriso que a mãe juraria ser sarcástico, se a filha não tivesse apenas 1 ano, dois meses e alguns dias.
A mãe começa a contagem regressiva.
10... A filha sai tagarelando no colo do pai.
9... O pai fecha a porta da cozinha e senta com ela no sofá.
8... O professor do curso (sim, o curso ainda está rolando,
teoricamente), volta a aparecer na tela, fala meia frase e some novamente. Todos
xingam muito no twitter reclamam no chat.
7... A filha começa a chorar dramaticamente.
6... O pai diz alguma coisa como “pode chorar, daqui você
não sai” e segue no sofá fingindo que ignora o “espetáculo”.
5... – Filha, por favor, a mamãe está ocupada e você não
pode ficar lá agora. Logo ela volta.
4... – Toma amor, ela não vai parar de chorar de jeito nenhum, diz o pai,
devolvendo a filha ao quarto.
3... Por decisão da
empresa responsável, o curso é cancelado e reagendado para outra data, quando
ele deverá funcionar decentemente.
2... – Pronto filha, você venceu. Mamãe não tem mais curso
pra fazer.
1... A família segue feliz pra sala e a filha vai rindo e
conversando como se nada de anormal tivesse acontecido.
São 21h10. A mãe chaga a conclusão de que bom mesmo é ser
criança e esquecer as lágrimas com tamanha facilidade!
Finalmente a mãe tem tempo pra preparar um leite com
bolachas e matar, em partes, a fome que já fazia a barriga roncar desde às 17h.
22h. A filha toma mais uma mamadeira, desliga-se a TV e
todos vão se deitar, deixando a casa num silêncio difícil de imaginar poucas
horas antes.
E é vida que segue...
7 comentários on "A mãe, o curso, a filha e o caos"
kkkk adorei seu relato é como se eu estivesse na mesma situação, filhos não desistem né e o pior q ela vai achar q ficou com vc por causa do chora kkkk
vai la me visitar
www.princesaagatha.blogspot.com.br
bjos
Estamos rido aqui....eu e o Dú....beijos
que texto legal, meio engraçado, meio serio, adorei, eh mãe é padecer no paraíso né, não é fácil.
quando puder nos visite
Um super beijo da Adelaine e do Pedro
http://pedroantoniog.blogspot.com.br
Oi Adelaine, que bom que gostou!
Já estou te seguindo. Bjos e obrigada pela visita
Daqui a pouco são vocês, é bom se prepararem..hahaha
Bjos pra vcs
Menina, na hora dá um certo nervoso, mas depois lembrando não tem como não rir da confusão toda..hehe
Já estou te acompanhando lá no seu cantinho. Seja bem-vinda aqui no meu tb.
Bjo
Amiga, nunca vou cansar de dizer o quanto gosto de te ler!!! É real!
Sei tanto o que é precisar de um tempo e não conseguir... E não ter colaboração. Porque PQP, é muito difícil para os homens ficarem longe da TV e manter as crias entretidas quando precisamos? Aff... A gente logo ficaria a quilômetros de distancia deles para que pudessem fazer suas atividades sem ser interrompidos... (Desabafos a parte, vc me entendeu né?! Rsrs)
Admiro muito vc e espero que a próxima aula seja mais tranqüila!
Beijos
Sá
www.jeitinhos.blogspot.com
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