Ontem eu saí
pra passear com a Clara, como fazemos quase todo final de tarde depois que
chego do trabalho. E como em quase todo final de tarde, ela não queria andar de
mãos dadas comigo. Ficava tentando se soltar para andar para onde bem quisesse.
Com medo de que ela fosse em direção à rua, eu segurei bem forte a sua mão e
disse: “Você é criança, não pode largar da mamãe agora, é perigoso”. Ela parece ter entendido o
recado e continuamos nós duas, de mãos dadas, caminhando tranquilamente.
E de
repente eu me vi pensando, sem querer, nas mães que perderam seus filhos na
tragédia de Santa Maria – RS. Perguntei pra mim mesma : “E quando é que um
filho deixa de ser criança pra uma mãe?”. Nunca, foi a resposta que me ocorreu.
Porque os filhos crescem, ganham sua independência, fazem novos amigos e novas
descobertas, mas sua mãe estará sempre aflita, esperando que ele chegue bem em
casa.
A mãe
tentará adiar ao máximo que o filho solte de suas mãos e, mesmo que defenda que
ele tem o direito de crescer e andar com suas próprias pernas, nunca vai deixar
de olhar pra ele como uma criança que precisa ser amparada quando chora. E ficará feliz em ser requisitada pelo filho em apuros, não importa se ele tem 1 ou 50 anos. O vínculo é eterno.
Mães são
mães. O pai dorme enquanto o filho está na balada com os amigos. A mãe não. Ela
não dorme de verdade, até escutar o barulho da chave que abre a porta, mesmo
que isso seja às 6h da manhã. E quantas mães amanheceram à espera do barulho na
porta no último domingo? Quantas mães foram surpreendidas, não pelo barulho da
chave, mas pelo toque cruel do telefone interrompendo o silêncio de madrugada
com a pior notícia que elas poderiam receber na vida?
Quem é mãe,
em qualquer parte do Brasil, certamente sentiu esta tragédia com um aperto a
mais no coração. Eu sempre me impressionei e sofri com situações como esta. Mas
antes eu pensava e tinha pena pelas vítimas, que perderam suas vidas cedo
demais e que tinham tantos sonhos pra realizar. Hoje, mais do que isso, eu
penso na dor dos pais, que certamente sentem como se estivessem enterrando suas
próprias vidas junto com o corpo do filho. Eu me sentiria assim.
Me vi
chorando sem perceber várias vezes, vendo e ouvindo mães desesperadas
procurando informações de suas “crianças” nos hospitais e mais ainda por
aquelas que tinham confirmada a pior perda de todas: a perda de um filho. A
perda de dois...de todos!
Já imaginou
quantas vezes elas vão perguntar para si mesmas por que não impediram os filhos
de sair naquela noite? Por que não prestaram mais atenção naquela intuição que
parecia prever o que aconteceu? Por semanas, meses, anos elas vão se esquecer
do fato de que nós, mães, não temos o controle sobre a vida dos filhos,
infelizmente. Na verdade, não temos o controle sobre a vida, de maneira geral.
E é esta dura constatação que bate à porta em momentos como este.
Eu posso
segurar a mão da minha filha agora, pra evitar que ela corra em direção à rua,
mas não poderei evitar eternamente que ela se machuque, que se decepcione, que
chore, que nada. Mas nem por isso vou deixar de ampará-la, de tentar poupá-la de
algumas decepções, de orientá-la e, principalmente, de rezar por ela.
pronto, deve ser
isso que as mães fazem enquanto ficam acordadas esperando a chave do filho
abrir a porta de madrugada: elas rezam!
E é isso o
que eu sigo fazendo, rezando por mim, pela minha família, pelos meus amigos, pelos pais e mães que
perderam seus filhos na tragédia de Santa Maria e para que eu nunca, jamais passe pelo que eles estão passando
hoje.
1 comentários on "Sobre as mães e a dor de perder um filho"
Amiga que dor.... Ando depressiva esses dias... Que dor....
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